Teoria ou hipótese? Não é “só” uma teoria!

  Lavínia de Oliveira

Você e um amigo estão caminhando, de repente o livro que você está segurando cai da sua mão e você pergunta: “Por que parece que um livro cai mais rápido que uma folha de papel?”. Seu amigo responde: “Eu tenho uma teoria. A Terra puxa o livro, que é mais pesado, com mais força, então ele cai mais rápido. O papel é muito leve e demora mais para cair”. Você acha que a “teoria” que o seu amigo inventou é tão confiável quanto uma teoria científica como a teoria da evolução, por exemplo? 

No dia a dia usamos a palavra “teoria” como sinônimo para “hipótese”, mas na ciência não é bem assim que funciona. Tem gente que até desqualifica as teorias científicas por causa dessa confusão, elas dizem “Ué, não é uma teoria?”. Mas vem que eu te mostro por que esse pensamento está longe do que são as teorias científicas de fato, e por que a teoria do seu amigo é, na verdade, só uma hipótese (e está equivocada, por sinal). 

No exemplo, o que seu amigo chamou de teoria foi uma hipótese, uma especulação. Mas na ciência é assim: a hipótese é um dos passos para se construir uma teoria científica, e ela passa por um processo rigoroso antes de receber esse título: o método científico!

E como é feito esse método científico? Ele tem alguns passos:

Primeiro: a observação, quando observamos e percebemos algum acontecimento natural. Foi o que você fez quando ficou curioso(a) percebendo que um livro parece cair mais rápido que uma folha de papel.

Segundo: a formulação de uma hipótese. É uma tentativa de explicar esse acontecimento observado. Foi isso que seu amigo fez quando disse que o motivo era o peso do livro ser maior que o da folha de papel (e chamou equivocadamente de teoria).

 Terceiro: a experimentação. Essa é uma parte bem demorada e rigorosa do método científico. Muitos experimentos devem ser feitos, e devem confirmar a sua hipótese para ela ser considerada válida. E outros cientistas têm que conseguir reproduzir com outros equipamentos e condições, sem ter conexão com você. Aliás, seria possível provar que a hipótese do seu amigo no exemplo não é consistente com um experimento simples! Veja nesse vídeo do canal Física Universitária: Experimento - força gravitacional

Mas calma que não é assim tão fácil construir uma teoria! 

Os resultados da fase de experimentação precisam ser analisados por outros especialistas antes de serem aceitos, e eles com certeza vão tentar provar que a sua hipótese está errada! Só então, depois desse looongo caminho, se ela for aceita pela comunidade científica, pode compor uma teoria!

E aí chegamos no que de fato é uma teoria: ela é formada por fatos científicos (observados muitas vezes, tomados como consistentes), tenta explicar fenômenos naturais e permite previsões sobre esses fenômenos

Mas uma teoria também não é uma verdade absoluta! Na verdade, uma parte muito importante é que se novos resultados aparecerem, ela pode ser provada errada e assim seu conjunto de fatos é melhorado, construindo mais Ciência! 

Se você pesquisar no Google, a palavra “teoria” tem dois significados como resultado:

1. “Conjunto de regras ou leis, mais ou menos sistematizadas, aplicadas a uma área específica.” e 

2. “Conhecimento especulativo, metódico e organizado de caráter hipotético e sintético”. 

O primeiro resultado é o mais próximo de uma teoria científica, enquanto o segundo fala sobre o significado cotidiano de teoria!

E por que toda essa história acaba sendo ruim para a Ciência? 

Acontece que por confundir esses significados, muitas pessoas dão

o mesmo nível de credibilidade a teorias científicas consistentes e “teorias” que são apenas "chutes" ou suposições e que não passaram por todo esse processo de confirmação! Um exemplo é a teoria do design inteligente, que não é uma teoria científica, mas várias pessoas que acreditam nela pensam que tem a mesma credibilidade que a teoria da evolução, por exemplo, que vai no sentido contrário. Isso abre espaço para a propagação de informações mentirosas, pseudociências e falácias que podem trazer prejuízos de verdade à sociedade!.

Inclusive, você já ouviu falar nas pseudociências? Sabe como elas operam para tentar convencer as pessoas de que são confiáveis? 

Para se aprofundar: 

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