Como evitar que a informação científica seja desvalorizada como consequência da propagação de fakenews?

 Gabriela Sehnem Heck

Imagine passar anos estudando para descobrir como uma coisa funciona e, após muito esforço, finalmente encontrar a resposta. Então, surge uma pessoa, do nada, sem ter estudado nada, e fala que você está errada porque ela “acha” que não é bem assim? 

É isso que acontece quando a informação científica é desacreditada e desvalorizada por que um grupo de pessoas dissemina informações falsas pela sociedade. Essas informações falsas, ou as fake news, são informações que não tem base científica, mas que se mascaram como informação científica, usando de termos e conceitos robustos para fazer com que uma informação falsa pareça verdadeira. 

 A ciência desempenha um papel único na sociedade de nos fornecer informações confiáveis que se baseiam no método científico. Isso significa que o cientista formula hipóteses ou sistemas de teorias que serão testadas e confrontadas com a experiência, através de recursos de observação e experimentação - então não é achismo. 

 A ciência utiliza o método científico como critério de validação, e só é considerado “científico” se tais critérios forem atendidos. Sem sabermos, tais critérios são utilizados por nós no dia a dia para explicar as coisas do nosso cotidiano, a diferença é que os cientistas deixam registros explícitos de cada um dos seus passos, gerando documentados utilizados em diferentes partes do mundo, criando uma tradição que vá além de uma só pessoa ou geração. 

 Porém, com a popularização da internet e das redes sociais, as novas tecnologias permitem que qualquer pessoa com acesso à rede possa se expressar e comunicar suas ideias, independentemente de qualquer processo de análise de fontes, métodos, e da veracidade. Isso vem causando um processo de distorção deliberada da ciência, pois muitas dessas informações vão de encontro ao que o método científico propõe, levando a desinformação. 

 Quando uma informação é publicada sem passar pelo método científico, ela não pode ser considerada válida e/ou científica. Portanto, publicar informações baseadas em crenças, experiências e suposições alimentam a pós-verdade, em que as opiniões importam mais do que os fatos em si, e contribuem para a desconfiança da ciência e das descobertas científicas pois cria núcleos, ou “bolhas sociais”, onde os participantes se encontram isolados de visões alternativas que vão de encontro às suas convicções e opiniões. 

Assim, a ciência encontra-se sob ataque, e a tarefa de disseminação do conhecimento científico enfrenta diversos desafios. Para contornar a distorção das informações científicas, que leva a desinformação e às fake news, o acesso à ciência e à informação requerem algum nível de familiaridade com a prática e empreendimento da ciência: requer uma alfabetização científica. 

A alfabetização científica permite que um indivíduo possua determinado conhecimento científico e seja capaz de usar esse conhecimento para tomar decisões cotidianas, tanto no nível individual quanto no social. Mas, para que o conhecimento científico chegue à todos, é necessária uma transposição da linguagem científica para a linguagem leiga, e esse processo de transposição das ideias contidas em textos científicos para os meios de comunicação populares é chamado de popularização da ciência.

Para saber mais:

CAMARGO JR, Kenneth Rochel De. Para defender a ciência, é necessário torná-la acessível, inteligível e significativa. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 28, n. 2, p. 1–5, 2018.

MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento: As bases biológicas do conhecimento humano. São Paulo: Editorial Psy, 1995. MEC. Base Nacional Comum Curricular. Brasilia: Ministéio da Educação, 2018. 

 MUELLER, Suzana Pinheiro Machado. Popularização do conhecimento científico. DataGramaZero- Revista de Ciência da Informação, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 1–11, 2002.

POPPER, Karl Raimund. A Logica da Pesquisa Cientifica. São Paulo: Editora Cultrix, 2007. 

SCHEUFELE, Dietram A.; KRAUSE, Nicole M. Science audiences, misinformation, and fake news. Proceedings of the National Academy of Sciences, United States, v. 116, n. 16, p. 7662–7669, 2019. DOI: 10.1073/pnas.1805871115. 

 SHARON, Aviv J.; BARAM-TSABARI, Ayelet. Can science literacy help individuals identify misinformation in everyday life? Science Education, United States, v. 104, n. 5, p. 873–894, 2020.

SNOW, CatherineE.; DIBNER, KenneA. ScienceLiteracy. Washington, D.C.: National Academies Press, 2016.

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